quarta-feira, 9 de junho de 2010

Tartarugas Ninjas



No original As Tartarugas Mutantes Ninjas e Adolescentes (Teenage Mutant Ninja Turtles) foram os quadrinhos independentes de maior sucesso comercial da última decada. Sozinho, o HQ foi responsável por uma verdadeira revolução no mercado independente norte americano.

Hoje é praticamente impossível encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar deste quarteto carismático de tartarugas antropormóficas. O que muita gente não sabe é que as aventuras delas começaram há 25 anos de maneira totalmente independente por dois malucos.

Esses dois malucos são os criadores dos personagens, os amigos Kevin Eastman e Peter Laird.

Kevin Eastman nasceu na cidade de Portland, Maime, em 30 de Maio de 1962. Kevin aprendeu a desenhar sozinho, teve seu primeiro trabalho publicado em 1980 nas revistas Comix Wave, de Clay Geerdes e goodies . Foi ai que conheceu o futuro parceiro de criação Peter Laird.

Peter Laird nasceu em North Adams, Massachusetts, em 27 de Janeiro de 1964. Formou-se em Artes Gráficas pela universidade de Massachusetts. Peter entrou para o mercado profissional como um freelance, depois de cinco anos conheceu Kevin Eastman.
A historia que se conta é que ambos estavam chapados de cerveja (e sabe-se lá mais o que) quando Kevin desenhou uma tartaruga em pé com uma bandana e um par de nunchakus. Logo que viu o desenho Peter bolou um nome “Tartaruga Mutante Ninja”, os dois se entreolharam e a história começou.

Kevin havia acabado de receber um cheque de 500 dólares da restituição do imposto de renda, com mais 700 emprestados de um tio dele os dois mandaram imprimir 3000 cópias em preto e branco daquela que seria a primeira edição das Tartarugas Ninjas. Depois de pagar a impressão eles ainda pagaram um anúncio de página inteira num popular informativo especializado em quadrinhos o Comic Buyer’s Guide.
A intenção dos dois era vender as revistas uma-a-uma pelo correio. Logo, varias distribuidoras entraram em contato para distribuir as revistas pelos comic Shops.
Graças à experiência de Peter no ramo jornalístico ele decidiu fazer um Kit de Imprensa com algumas ilustrações e o resumo da história. Esse kit foi enviado a 180 estações de TV e emissoras de rádio.

Não se sabe ao certo se o dia estava fraco de noticias, o fato é que vários jornais locais fizeram matérias sobre as Tartarugas.

Essa primeira edição independente vendeu mais de 50.000 cópias transformando as Tartarugas no maior sucesso de quadrinhos independentes americanos.

Logo o novo agente Mark Freedman apresentou os personagens para a Playmates, uma, na época, pequena fábrica de brinquedos. A empresa concordou em lançar uma linha de brinquedos se a série conseguisse um programa na TV. Tudo foi acontecendo de uma vez só. Mark correu atrás de uma produtora de desenhos animados a Murakami, Wolf, Swenson Inc. que logo produziu uma mini serie em 5 capítulos.

Logo todos viram que a serie seria um grande sucesso.



As Tartarugas Ninjas viraram filmes, desenhos, roupas e tudo o mais que pudesse dar dinheiro aos seus criadores, elevando aqueles dois desempregados a astros da indústria, milionários e mundialmente famosos.

Usagi Yojimbo (o coelho guarda-costas)




Usagi Yojimbo foi criado em 1987 pelo cartunista Nipo-Americano Stan-Sakai. Stan nasceu em Kyoto no Japão, aos dois anos de idade seu mudou com sua família para o Havaí, lá viveu até os 22 anos. Formou-se em artes plásticas pela universidade do Havaí e depois continuou seus estudos na Art Center College of Desing em Pasadena, California, onde mora até hoje.
O colho guarda-costas apareceu pela primeira vez no ano de 1984, na revista Albedo Anthropomorphics #2, uma revista inundada de personagens antropormóficos com temas sérios. Isso foi durante o Boom dos quadrinhos em preto e branco do final dos anos 80.

A serie contava as andanças do personagem Usagi por um Japão feudal, durante a virada do século XVII. As guerras civis haviam chegado ao fim e o dominante militar, o Shogun, havia estabelecido seu poder. Os samurais eram a classe dominante e continuavam seguindo seu código de honra conhecido como Bushido, mesmo em um território dominado pela intranqüilidade social e a intriga política.
As edições mostravam a andança do coelho por este cenário devastado.
Desde então Usagi Yojimbi já foi publicado em diversos países e foi tranformado em brinquedos, roupas e séries de graphic novels.
Apesar de começar a ter sido publicado em uma revista americana, Usagi conseguiu também agradar a audiência nipônica, o que é bem raro.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

QUADRINHOS INDEPENDENTES

Em qualquer mercado cultural e artístico do mundo existe uma divisão de segmentos e públicos-alvo. Uma dessas maiores divisões é a que separa o mercado alternativo/independente/underground do mercado principal/maintream. Seja na música, no cinema ou nos quadrinhos o mercado independente sempre apresenta formas de linguagem, experimentações e técnicas diferentes das apresentadas no mercado principal. Diversas bandas ou diretores que hoje desfrutam de um reconhecimento no mercado começaram suas carreiras de maneira independente. O mainstream sempre acaba absorvendo o que de mais interessante acontece no mercado alternativo, popularizando e elevando aquele produto a outro nível de qualidade.

Imagine agora esse fato no competitivo cenário das grandes editoras de quadrinhos norte-americanas, lar dos maiores super-heróis do planeta. A Marvel Comics e a DC travam uma antiga guerra pela preferência dos leitores. As duas gigantes do ramo são duas potencias mundiais, seus personagens são publicados em uma centena de idiomas pelo mundo a fora. Bem, se essas duas são referencias em quadrinhos, imagine então o mercado independente norte-americano?

Isso mesmo leitor, existe por lá um mercado fortíssimo de quadrinhos independentes, totalmente organizados. Uma infinidade de títulos tem despontado, desde os anos 70, elevando seus criadores a referencias no gênero.

Para tentar entender um pouco sobre a força que os quadrinhos independentes têm no mercado norte-americano, é preciso saber que essa força provém e é fortalecida por uma antiga guerra entre as grandes editoras e os criadores e artistas.

Lá, desde o crescimento da indústria nos anos 40, os artistas das grandes editoras são tratados como free-lancers. Isso quer dizer, em suma, que todo o direito autoral sobre seu trabalho de criação com os personagens é por direito da editora. Foi assim que essas corporações editoriais passaram a deter os direitos sobre uma infinidade de personagens como Batman, Superman, Homem-Aranha, X-men, Vingadores etc...

Um dos exemplos mais famosos dessa guerra é o da família de Jerry Siegel, um dos criadores do Superman, o personagem mais famoso da história dos quadrinhos. Eles só começaram a receber o que lhes é de direito pela criação em 2005, depois de uma sentença judicial.

Essa guerra acabou fortalecendo o nicho independente, que por sua vez, provou ser possível fazer sucesso e alcançar fama e fortuna dessa maneira, como é o caso de Kevin Eastman, Peter Laird (As Tartarugas Ninja), Stan Sakai (Usagi Yojimbo), Dave Sim (Cerebus),Wendy e Richard Pini (ElfQuest), entre outros.

Aqui vai a história de alguns desses criadores e personagens que decidiram enfrentar as gigantes editorias.

CEREBUS O AARDVARK de DAVE SIM



Cerebus pode ser considerada a serie independente de maior sucesso no mercado norte-americano. Escrita e ilustrada pelo canadense Dave Sim, Cerebus pode se vangloriar por ser uma das séries, em língua inglesa, mais longas (com começo, meio e fim) a ser produzida pelo mesmo time criativo, isto é, apenas Dave Sim. Foram mais de 300 edições, 6.000 páginas contando a história do porco-da-terra Cerberus, em um mundo rodeado por magia ao melhor estilo de uma paródia de Conan o Bárbaro. A série foi publicada mensalmente de 1977 a 2004, colocando o criador como um dos pioneiros dos quadrinhos independentes, inspirando uma centena de escritores e desenhistas depois dele.

A série se desenvolveu ao longo de sua publicação junto com seu criador, chegando a um patamar de sofisticação artística. Dave se tornou conhecido por utilizar toda a grandeza da narrativa sequencial dos quadrinhos de formas antes inimagináveis. Livre das ordens das mega-corporações do gênero, o artista usou todo seu esforço para extrapolar todas as limitações impostas pelas grandes editoras, tornando a revista Cerebus um dos expoentes do gênero independente.
Dave também se tornou conhecido por ser um dos principais articulistas em prol dos direitos autorais dos quadrinhos. A serie, apesar do sucesso,continua ainda hoje inédita no mercado nacional.

Na continuação do post você conhecerá as histórias por trás da criação de outros relevantes quadrinhos independentes. Até lá.

O Pelé dos quadrinhos




New York: Life in the Big City (título original): livro que reúne quatro graphic novels de Will Eisner - New York, O Edifício, City People Notebook e Pessoas Invisíveis. 400 páginas, com introdução de Neil Gaiman. Lançado pela CIA das Letras em 2009.



A Contract With God (título original): livro que revolucionou a arte sequencial. Volume com 202 páginas, lançado pela Devir livraria em 2007.

Nascido e criado na cidade de Nova York, Will Eisner foi para os quadrinhos o que Pelé ou Gabriel Garcia Marques são para o futebol e a literatura. Não é exagero afirmar que seu talento contribuiu, não só para o desenvolvimento dos quadrinhos como forma de arte, mais também para a reformulação de toda a indústria no mundo inteiro. Segundo ele mesmo, Eisner foi uma “testemunha gráfica, registrando a vida, a morte, o sofrimento e a luta incessante para triunfar...ou pelo menos sobreviver”.

Segundo o roteirista Neil Gaiman (Sandman) a vida de Eisner pode ser dividida em três atos.”No primeiro ato, conforme relatado no romance de Will, O Sonhador, ele era um homem que acreditava nos quadrinhos enquanto veículo de comunicação, um homem que escrevia e desenhava histórias excelentes, um homem que inventou um modelo de negócios para manter a posse das próprias criações (algo raro no mercado Norte-Americano), no segundo ato Will abandonou os quadrinhos numa época em que o futuro do setor parecia trágico (os quadrinhos adultos eram vistos com preconceito e com impossibilidade). (...) O terceiro ato é composto de toda uma carreira, com as pequenas histórias que compõem UM CONTRATO COM DEUS (o primeiro Grafic Novel da história). Produzida durante um período de mais de sessenta anos, a obra de Eisner foi notável, inteligente e consistente”.

Foi nesse terceiro ato que Eisner revolucionou o mercado americano. Lançado originalmente em 1978 UM CONTRATO COM DEUS é uma obra revolucionária que recria as memórias da infância de Eisner pelos cortiços dos anos 30. Foi graças a esse lançamento que o termo “grafic novel” foi inventado, motivado pela impossibilidade de definir uma obra tão poderosa e densa apenas como ‘história em quadrinhos’. Como um verdadeiro contador de histórias Eisner passou a se dedicar inteiramente as novelas gráficas com temas mais realistas. Passou os mais de 25 anos que o restavam de vida trabalhando em verdadeiras pérolas como No Coração da Tempestade, O último Dia no Vietnã, O Nome do Jogo, Nova York: A grande cidade, Caderno de Tipos Urbanos, O edifício e Pessoas invisíveis (os quatro reunidos no volume lançado ano passado pela Cia das Letras).



Os avanços conseguidos por Eisner podem ser facilmente vistos hoje em dia na indústria de quadrinhos. Graças a ele as histórias passaram a ser vistas não só como entretenimento infanto-juvenil, e sim como uma forma séria de arte. Sem ele seria impossível o surgimento de outros autores que vieram a mudar os quadrinhos nos anos 80, como Frank Miller (Batman o cavaleiro das trevas e Sin City) e Alan Moore (V de vingança, Watchman) E não são apenas nos roteiros que toda essa revolução é vista. Os desenhos transpiram vida. Tanto o leyout das páginas quanto os quadrinhos, as rachuras,tudo serve para ajudar a contar as histórias. Eisner já estava á frente do seu tempo nos anos 70, e mesmo hoje continua lá, bem a frente. Como diz o controverso roteirista Alan Moore “Eisner é o responsável por dar inteligência aos quadrinhos”. O tamanho de sua revolução não pode ser mensurado em palavras, só com desenhos e balões.

Considerado o artista mais importante dos quadrinhos e da cultura pop do século XX Eisner morreu em 2005, aos 87 anos. Sua morte deixou órfã toda uma geração de leitores e admiradores. Foi graças a sua genialidade e talento que os quadrinhos mudaram para sempre. Passando a ser reconhecidos, pelo termo que ele mesmo criou, arte seqüencial.